Como falar de saúde mental e inclusão em setembro.
Setembro é o mês da prevenção ao suicídio. É quando grande parte da internet começa a falar de saúde mental, se oferecer para ajudar pessoas que estão passando por momentos difíceis e é quando órgãos públicos se mobilizam com campanhas de prevenção ao suicídio.
Mas é importante ressaltar que todos os meses é preciso falar de suicício, depressão, ansiedade, e outros transtornos mentais; mais de 12 mil pessoas tiram a própria vida por ano no Brasil, segundo o IBGE.
A psicóloga Daiane Lech diz que é preciso ter embasamento para conscientizar:
"Deve-se lembrar que a saúde mental, assim como a física, é um campo de estudo científico, assim como precisamos ter embasamento para falar sobre assuntos como o meio-ambiente, por exemplo.”
A maior causa do suicídio é a depressão. A carga emocional que uma pessoa com depressão passa, é uma coisa muito séria e pesada psiquicamente, tanto para quem sente, quanto para a rede de apoio dessa pessoa (pais, amigos, etc). Portanto, pessoas que não são qualificadas profissionalmente, nem sempre são capazes, mesmo com a melhor das intenções, de manejar o problema.
A saúde mental das pessoas com deficiência
Sabemos que acessibilidade para pessoas com deficiência é a possibilidade de transpor ambientes e situações que não sejam inclusivas; barreiras que dificultam sua participação efetiva nos contextos sociais. O papel da inclusão é fazer com que a sociedade seja formada por diferentes pessoas, cada qual em sua singularidade. Ainda sim, nos deparamos com muitos estigmas "diferentes" de um padrão social da maioria. E o impacto sempre será em sua saúde mental e em sua participação como sujeito na sociedade.
“Infelizmente, as pessoas com deficiência ainda não têm o direito de ir e vir sempre garantido. Se você não tem isso, nem conseguir realizar tarefas cotidianas naturalmente, é muito difícil manter uma boa saúde mental”, diz Lech. “Portanto, assim como o corpo deve ser cuidado, a saúde mental também deve ser cultivada para que pessoas com deficiência consigam viver saudavelmente e socialmente como um todo”, conclui.
E quanto mais cedo se cuida da saúde mental, melhor para o desenvolvimento do indivíduo. De acordo com um trabalho recém publicado sobre a trajetória da saúde mental entre crianças e adolescentes brasileiros e ingleses pela FAPESP, os problemas de saúde mental costumam ser crônicos e iniciar na infância/adolescência, sendo que entre 25% e 75% dos casos identificados na vida adulta poderiam ter sido prevenidos e/ou minimizados se tivessem recebido tratamento adequado anteriormente.
Portanto, ainda segundo o estudo, as intervenções precoces têm se mostrado mais efetivas para tratar problemas de saúde mental que intervenções tardias, além de contribuírem para a promoção do desempenho acadêmico, na melhora de relacionamentos sociais com colegas e familiares, assim como na prevenção de abuso de substâncias, entre outros aspectos que podem ter consequências determinantes no decorrer da vida das pessoas.
Além disso, crianças/adolescentes com problemas de saúde mental não assistidas corretamente perdem a oportunidade de desenvolver suas potencialidades num momento crucial do desenvolvimento. Ainda sim, a maioria das crianças/adolescentes com problemas de saúde mental ao redor do mundo não recebem o tratamento completo, envolvendo prevenção, promoção e reabilitação.
É sobre o todo
Não podemos falar de saúde mental sem falarmos sobre saúde pública, direitos básicos, moradia e segurança financeira. Estas, estão correlacionadas e, como sociedade, devemos levar esse debate à frente.
“Saúde mental e a qualidade de vida, estão intrinsecamente interligadas, uma não existe sem a outra, o corpo não se separa da mente, ou seja, viver bem implica diretamente em cuidar da saúde mental. Num viés individualista, não ser saudável mentalmente, pode levar a queda da saúde física, produtividade, distanciamento de relações e sofrimento como um todo, mas é importante salientar que ser saudável mentalmente é um aspecto que só se consegue quando vários outros fatores também são atendidos”, afirma Lech.
De maneira ampla e geral, com a melhora de políticas públicas, amplia-se os processos inclusivos e a qualidade de vida de todos.
O que nós podemos fazer para ajudar?
Como podemos desenvolver estratégias de promoção da saúde mental e de proteção aos indivíduos de risco?
A primeira ação importante é entender que todos os contextos de vida de uma pessoa, podem por si só ter um caráter de promoção de saúde assim como serem agentes de doença. Precisamos saber identificar os fatores de risco e os fatores de proteção dos ambientes e entender que todos ao redor desse indivíduo, estão envolvidos neles. Por exemplo, pessoas com algum tipo de deficiência estão muito mais expostas a situações de violência doméstica de diferentes ordens. É importante sempre estar atento.
A psicóloga Daiane Lech ainda destaca a importância de uma rede de apoio para indivíduos de risco: “o primeiro ponto é reconhecer os nossos limites pessoais, até onde conseguimos agir. Pode-se acolher a dor do outro e colocar-se à disposição para esse acolhimento”, diz Lech. Ela ainda incentiva a buscar ajuda de um profissional qualificado, como um psicólogo ou psiquiatra.
Além disso, Daiane fala sobre o aspecto da vida social do indivíduo: “Cuidar do aspecto social é algo que pode auxiliar, afinal de contas, o ser humano é um ser social que se dá no mundo dentro de relações interpessoais. Cultivar boas relações com familiares, amigos e colegas, respeitando os próprios limites e os limites alheios, contribuem para uma rotina saudável mentalmente. Investir em si mesmo, estabelecer momentos introspectivos de qualidade, investir em hobbies e respeitar o tempo pessoal de descanso também é essencial”.
Não apenas a família é responsável pela saúde mental. A adoção de novas políticas públicas, bom acompanhamento educacional, e a promoção de atividades esportivas e culturais e de lazer gratuitas, são exemplos que contribuem para uma sociedade mais saudável mentalmente.
Se chegaram até aqui no texto, identificaram, como nós, que os desafios são gigantes. E esse é nosso convite: o que tem feito pela sua saúde mental e das pessoas que te cercam?
Vamos juntos promover saúde e garantia de uma vida plena a todos! Nosso propósito é construir um mundo onde aprender com as diferenças é um privilégio. Onde a inclusão é uma certeza, um direito e não uma exceção.
Contem com a gente!
Fontes:
O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e pode-se conseguir consultas gratuitas pelo CAPS ou Unidade de Saúde mais próxima. Faculdades e Universidades que têm o curso de psicologia, normalmente oferecem o serviço de clínica-escola, onde é possível encontrar atendimento psicoterápico a preços sociais.
CVV: 188
https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/179580/trajetoria-da-saude-mental-e-de-uso-de-servicos-entre-criancasadolescentes-brasileiros-e-ingleses/
https://link.springer.com/article/10.1007/s00127-021-02143-4
Inclusão Eficiente
